sábado, 26 de maio de 2012

eles escutaram os gritos sim com certeza mas provavelmente desconfiaram que era prazer então tiveram medo e no dia seguinte ninguém tocou no assunto havia de existir alguma dádiva cármica alguma vantagem em ser fruto de uma família tão medrosa não se fala no assunto não falem nada então não preciso nem de sobrenome nem de sobremesa não mastiguei direito mãe não engoli tenho que correr que li pichado num muro que a liberdade tem pressa e pedro não está entendendo muito bem o que está acontecendo mas a gente tem sido livre quando apaga a luz e fecha a porta e fica tão escuro que não sabemos nem mesmo quem somos e ainda assim nos adentramos e depois rolam os eu te amos que eu digo traindo meu medo que eu renego mas no final das contas o que importa o fim das contas se há tanto o que se perde nessa lógica e foram enfiar uma palavra tão horrorosa que é epistêmica na própria vida pelo amor de dadá mãe eu te liberto eu te dou as chaves do carro pega ele e se enfia nessa boceta maltratada que é o mundo experimenta são paulo com lsd  minha jagunça querida que dorme aí dentro num sono tão profundo te perdoo se matar alguns te perdoo por tudo só não termina em um manicômio por favor não vai pensar que é patológico as coisas existem mesmo juro é só cutucar que elas reagem e seus gritos podem ser prazer querida podem tenta me larga me esquece respira diafragma berra são vinte e cinco anos se precipita no precipício não vai ser a morte ou que seja mas não vai ser pior.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Reflexões sobre Corpos Informáticos Performance Corpo Política: Chutar o pau da barraca ou Chupar o pau da Barraca?


                                                                           
“O principal problema com os ciborgues é, obviamente, que eles são filhos ilegítimos do militarismo e do capitalismo patriarcal, isso para não mencionar o socialismo de estado. Mas os filhos ilegítimos são, com frequência, extremamente infiéis às suas origens. Seus pais são, afinal, dispensáveis.”
Donna Haraway.
Acho, por exemplo, que é crucial escrever frases que começam com 'acho', mesmo correndo o risco de ser mal interpretada como adicionando o sujeito ao ato. Não existe nenhuma forma de contestar esses tipos de gramáticas a não ser habitá-las de maneiras que produzam nelas uma grande dissonância, que 'digam' exatamente aquilo que a própria gramática deveria impedir.”  Judith Butler.
Na capa, Corpos Informáticos Performance Corpo Política aparecem sem separações, sem vírgulas, nem conectivos, o que me causa simpatia, por achar que no duro, ou no doce, na agência da vida, essas separações não são práticas. Em volução (movimentos não cartesianos, mas múltiplos e sensuais) a existência do corpo, em sociedade, se (re)faz em performance, se (ne)grita em política. A todo momento. Estando em foco, ou não. Coexistem.
Porém a performance doce e repetitiva do mascar chicletes na parada de ônibus do conjunto nacional não, a priori, causa nenhum choque, não perturba, não muda um carro de sua direção automática diária. Trazer o duro, mas sem machucar, é o que parece buscar essa performance em arte e flecha...
Sabendo-se da arbitrária sombra branca fina e clássica que toca tão grande parte de nossa realidade, sabendo dela e a desconhecendo, acusando-a e apontando-a com o dedo meio torto. A intolerância que de onde vem, tão sujo, infectante e histórico, ambições automáticas, violências externas internas, o cassetete, o quebra-cabeça, os ismos, a amputação de tudo que é potencialmente maior e anulador do capital e do(s) sujeito(s) sentado(s) em algum trono simbólico qualquer. Me aparece uma moça, uma senhora, pintada de verde, compenetrada em seu verde. É o esmalte que usa, são as ligações de carbono que possui, é o valor de sua roupa, é o enlatado que comeu, mas que seja! Para aquilo e por aquilo se faz inversa, cospe no prato que comeu, porque não gostou.
Como é possível que Frankstein chore rios de lágrimas escondido, esperando que seu pai restaure o paraíso, construindo sua parceira hétero e pouco reflexiva e apaixonada? Temos em nós pedaços múltiplos de diversas partes de organismos e organizações que talvez nem imaginemos(além dos que insistentemente batemos os pés e queremos), e assim também, de tantos cânones e dogmas e sentenças infinitamente verdadeiras que já foram desintegradas(dos) pelo raio laser, pelo olhar de desprezo, pelo levante de milhares... Só podemos agora deixar os lamentos para o velho mundo mesmo. A gênese por água abaixo leva junto o apocalipse, não há castigo, não há fogo eterno. Equilibremos nossas tralhas sobre a cabeça e dancemos!
O corpo, o rosto, a expressão, foram de pouco em pouco, ou de muito em muito, não importa, foram subjugados, diminuídos. Não sei na verdade se um dia o foram totalmente libertos (ou o que isso significaria), mas vendo-os como nosso território, nosso palco maior, pedestais de si, é (de)onde se faz, se diz, o não. É onde se torce um nariz, se dá um dedo, é onde com a luz apagada se implode uma igreja enorme sem que ninguém veja, por isso é perigoso, porque pode ser que alguém resolva não apagar as luzes. E ninguém quer que aquele maravilhoso prédio espelhado que custou milhões tenha suas estruturas abaladas por umas seis ou sete bundas que têm algo a dizer. Não se quer ouvir. Não se pode mostrar, a bunda. Mas o que ela faz ali? Já não foice o tempo de negar e demonizar o próprio corpo? E além dele, a mesquinharia, a corrupção, as portas trancadas, quem tem coragem de denunciá-las com o próprio umbigo, de vestir-se com papel higiênico?
Há algo a ser feito, por quem não se queda no habitual, no comumente aceito. Atear fogo em tudo não deixa de ser uma opção, Hulk e Frankstein tiveram seus momentos destrutivos. Mas a lanterna, aqui, aponta pra uma trilha bem menos fatal. É se utilizar de cada parte que se sinta própria de si, se instrumentalizar e se diluir, se mostrar, sair de qualquer armário, de qualquer sala, de qualquer caixa, e se ser na rua, no aberto, no (quase utopia do)público (pois que também as arquiteturas urbanas também foram diminuindo com o tempo os espaços de todxs), levar por cores, formas, vozes, objetos, invocações pueris, o que seja, a consciência, o pensamento ensaboado, para um caminho, uma vez sequer, que seja esquizo, anômalo, anormal, que cause dúvida se é cosquinha ou a prima dela, ou que arda dependendo de subjetividades mil. Mas que se espalhe e inquiete.
Podemos nos construir, a partir de conhecimentos, vivências, cicatrizes. Sabendo digitar, sabendo programar. Hackers produzindo um bug. A carcaça de uma Kombi fincada como uma flor neon no acostamento da L4 norte. O esgoto reverso. A linguagem que cansa, reinventada. O que não deveria ser, mas é. Ali jogado, cuspido, exposto. Algo que não se engole sem mastigar, doce ou não. Lindo lindo lindo ou não. O que for vivo, o que tiver símbolos, o que se (si) quiser ser e mostrar, sabendo-se fugidio e eterno e pequeno em partes e em partes gigante, quiser dizer, será performance e poderá resultar em alívios, orgasmos, fagulhas, risadas descontroladas, medo, negação, resultar em nada, mas terá sido uma vida e uma tentativa.
A arte, aqui, quer ser traição. E eu, como um eu, quero trair com todos os contratos que (nunca) assinei. Chutar o pau da barraca? Chupar o pau da barraca? Sambar na cara da sociedade. Quem não gosta de samba? Que venha dançar também sua dança.
Posso fazer aqui qualquer coerência barata, para ser lida e julgada. Porque essas letras pretas impressas podem ser revertidas em valor e em um trâmite burocrático me passar para um outro estágio de minha linear vida profissional. Mas aqui, se reutilizando de espaço acadêmico, não acredito que seja isso que se busque, e ainda que seja uma busca infinda. Se quer sentir com quantos sentidos existam e explodam(-se). Não quero olhar de cima do monte Olimpo, não quero ser olhado de cima do monte Olimpo. Porque em vez de escrever uma resenha, não beijo Maria Beatriz de Medeiros?

quarta-feira, 2 de maio de 2012

tourinho eu também gosto quando você passa
quando me alicia quando me corrompe quando me corrói
quando me instiga quando me mastiga quando me dói
tourinho eu também gosto quando você gosta
seja o sol ou a lua, somos filhxs infiéis
das cores que vimos, da lama em seus pés
mamíferos efêmeros a gente se lambe
se lambe até secar
que é o que nos importa por hora
em meio às balas perdidas
são as nossas
que nos vivem que nos crescem
as  nossas mordidas
que nos cercam que chutamos as cercas
à cabeçadas, tourinho, à cabeçadas
nos amamos, fodemos-nos
nos fodam-se e compaixões
comparsas neo criminosos
tourinho eu também gosto quando você rouba
é o que é seja lá o que foi
e também não
tourinho eu também gosto quando você uiva