sábado, 29 de janeiro de 2011

é fácil falar quando você se sente muito bem confortável dentro do seu corpo
quando deus fez o mundo do jeitinho que é pra ser né?
cala a boca um pouquinho agora, isso...
espera um pouquinho agora... isso...isso
boquinha fechada, que tesão você!
mande trazer da áfrica, pelo amor de deus, o maior elefante que encontrarem.
preciso me sentir pequeno! como havia lhe dito. lembra? uns dez anos já se foram?
agora tenho medo de morrer. não sinto mais minha pele e não acredito por medo.
mandei trocarem o piso da sala também. não queria sangrar em granito.
meti taco na casa toda.
quem foi que falou de sentir o chão nos pés?
a gente tinha chegado a alguma conclusão? algo mais pra anular e esquecer a solidão?
vou enrolar e fumar toda aquela caixa de cartas. depois por fogo nesse chão
depois vou
sei lá.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

_tinha até me esquecido de como marlboro é amargo e amadeirado, acho poético.
_e causa dor, sofrimento e morte
_ o meu: horror.
_é poesia pra todos os lados

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ar...
...
me infiltrar
em você selvagem esparso
num espaço coeso
você voa porque não tem peso
aos meus olhos virgens
é você ar. é você, ar.
a infinitude inevitável do ser
é assim o retrato que faço de você
explícito, querido, já te explico:
há sangue em tudo que ri
ainda em quem ri assim, como um bebê
e é sangue, querido
sangue que eu quero beber
por isso me infiltrar em você
pra ter em mim o que é tátil
do abstrato
pra misturar no meu infinito
pra chocar o que é lindo
pra parar ar
e não esquecer
que preciso de você pra voar
não pra viver.

(enxe meus pulmões e se expulsa de mim,
seu lindo.)
Pensava na vida. como a gente costuma chamar: vida.
as microtragédias burguesinhas que a gente inventa todo dia e sustenta. nossos bebês mimados, dezenas pendurados em todos os membros, cada um chorando por uma coisa diferente.
Luísa veio me falar ontem, depois de um gole profundo de café, uma tragada macia e um olhar virado meio de lado, meio acima, disse: você não quer a bahia, querido. você quer jorge amado.
Luísa tem dessas de dar tapas na cara com a língua. A gente só vai perceber mesmo quanto doeu, depois que deita na cama e apaga a luz.
o que aconteceria(á) mesmo com pessoas disformes inquietas que nem eu, que vieram desde pequenas desconstruindo as evidências e consequências e causas do que se chama de amor e do que se petrifica. que desde pequenas nunca cresceram?
Outro dia imaginei minha morte mais ou menos assim: estaria eu numa escavação, todo sério concentrado e suando, já meio musculoso de vida e a pele queimada, uma longa barba ruiva, falando a língua nativa com alguns indígenas remanescentes, que me olhariam com fascínio e me trariam um chá...
sem mais: um gigante artefato milenar cai sobre a minha cabeça e uma extensa poça de sangue se espalha e se infiltra na terra e uma grande epifania se evapora.
mal sabia eu que morreria de uma gripe, cheio de lenços sujos ao redor da cama, o dvd rodando pela décima quinta vez aquele filme espanhol e Luísa na cozinha lavando a sua parte da louça...
eu espero que a felicidade seja o produto de uma hermética específica equação. aí quando depois de mais uma vez esquecer, lembro que nada a ver: choro e não ligo pra você,
e me velo, mas não me enterro.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Caro,
não trago nenhuma surpresa. mas é bom que esteja dito e expresso aqui assim, penso eu:
vou embora.
todas as intriguinhas e richas camufladas na sociabilidade e educação diárias, não são a causa, são sintomas. de algo que já vem se construindo faz tempo. não comigo e com você, é algo histórico, caro, totalmente (im)pessoal. é impensável de infinito. sério, quando paro pra pensar me dá náuseas... enfim, esse gigante abstrato(mas concreto e bruto quando algum dia derrepente te esmurra) é o que, segundo minhas análises, me deixa assim: impotente.
completamente impotente. e eu olho pra trás, pra minha vida inteira e tudo que eu fiz pelo contrário disso que agora me acompanha em constância e sinceramente acho que se não estivesse aqui há tanto tempo ainda me restariam bem mais cabelos. olho pra sua cara e... vou te dizer, que outro dia quando precisei te mandar a merda, minha voz falhou. e de que ia adiantar não é mesmo? seria mesmo pra cuspir em alguém a raiva da minha própria degradação. mas todos tem seus altos e baixos não é mesmo? não posso nem mais me dar ao luxo de evitar clichês. porém, esse não é meu fim.
cansei dessa canjinha sabe? só engulo agora coisas que eu possa mastigar. abre o olho! seus dentes estão caindo, caro.
esse prédio inteiro é uma piada, tristíssima. fantasmas do passado toscos enfeitados com a última moda.
será que você entende meu sufocamento? e eu compactuo com isso! olha só! não posso mais. nunca mais.
grita lá em cima pra eles mandarem um ofício lá pra cima avisando que fudeu. que perderam.
repassa pra secretária e pro preto do cafézinho que
o funcionário do sétimo andar se mandou e disse que só volta com o cão no corpo mordendo principalmente deus e o mundo.

bom almoço,

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

saber como funciona o sistema é um passo importante. depois é sair atirando. ou fazer piada disso, fazer dele palco e brilhar na performance, lógico dançando porque se você não atira, ele atira. assim que eu faço.
não falo de pôr fogo no circo também e sair montado num elefante, nem tanto. não sou assim.
pode-se em vez de falar respeitável público, falar filhos da puta! depois oferecer uma chupetinha por dez reais.
as necessidades e quereres são todos limitados subordinados.  mas eu te quero. e a gente sabe disso tudo. e você me quer também. daí a gente faz nosso carnaval um no outro. e depois sai distribuindo beijos pelas ruas do brasil. dançando ao som das balas, até que toda a munição acabe. assim que a gente fez.
ai, essa tradição de negar o prazer pra varrer lixo pra baixo do tapete que é a nossa pele. isso é tenebroso!
eu só quero me divertir. falei isso a vida inteira pra papai, mas ele insistia em franzir a testa.
bobo que era, quando criança imitava sempre essa sua careta e sofria de fortes enxaquecas.
mamãe se preocupava comigo, mas o conflito nela sei que era tanto quanto maior que preferia mesmo só mastigar sem fazer muito barulho e não deixar nada no prato, comia até o último grão. eu fazia o mesmo.
só que sempre tive essa facilidade pra vomitar. ai, como tive doenças quando pequeno. não saía do hospital... papai e mamãe devem ter morrido de estresse e desgosto. muito triste mesmo. eu tenho saudade deles. uma tela em branco não é culpada por terem cagado nela uma pintura tão medíocre e demodê.
eu vejo assim.
no dia do enterro levei tintas de várias cores e pintei seus caixões com as mãos e os pés. o resto da família me levou carregado de lá. e deles não tenho saudade. porque tenho raiva mesmo e me permito odiar às vezes, senão não grito e aí eu choro e aí eu... me deixa também, né?
quando eu digo o sistema, saiba que falo de uma porção bem pequena. pobre de mim se achasse que entendo de alguma coisa além das roupas que eu visto. e delas entendo bem. é só por isso que tenho sabido me virar. e revirar.
as roupas, gosto de ficar sem. mas se sair andando por aí sem roupa o mundo inteiro vai franzir a testa e aí é enxaqueca demais pro meu corpinho. estando bem vestido, posso guardar minhas tintas no bolso. posso pintar a sola dos meus sapatos e sair por aí colorindo meus passos. a liberdade é situacional e assim eu a reinvento.assim dá pra se divertir, e é só isso que quero e quis a vida toda.
um dia alguém vê por aí essas pegadas e segue pra ver onde dá.
aí um dia nem o asfalto nem os velórios serão negros.
nem terá elefantes em circos.