quinta-feira, 28 de junho de 2012

arquivos subcutaneos da ditadura do dia

_Cheguei a acreditar por um milésimo de segundo que dentro dessa misteriosa caixa destinada a mim, poderia ter uma garrafa de vinho com duas taças apoiadas sobre pétalas de rosa 
e talvez um bilhetinho de "estou com saudades, vamos embora daqui...", porém... a vida é mesmo um constante tapa na cara dos sonhadores. eram pastas suspensas para arquivamento de dados.
me encontro na sala 707, deitado no chão em posição fetal. talvez não responda pelo meu nome, não tente movimentos bruscos.
rs
OI BOM DIA!
to estudando pra uma prova de teoria antropologica 2 que terei hoje a tarde, posso olhar essas pastas só na quinta?  
estou aqui de qualquer forma, se precisar é só chamar.
a propósito... amanhã como funciona aqui?
Beijos :)


_Querido,


Essa sua forma literário-antropológica de ver o mundo me encanta! Minhas asas ainda não me elevaram tanto... :) Ainda bem que te liguei antes de ver a mensagem, assim não tateei e desconfigurei nossa paisagem burocrática e seu estado fetal-confortante rs,rs,rs


Então, estude mesmo! É uma das melhores coisas que poderá levar daqui.


Amanhã é feriado por aqui: nada funciona, ou seja, será um dia útil nosso para o país! Tire o seu guarda-chuva preto do armário e depois mergulhe na tempestade, sem ele.


Beijo,

sábado, 16 de junho de 2012

cansei da vigilância dessas microesferas toscas
vê se eu ia fantasiar uma coisa dessas! escutas no meu celular, no meu apartamento, meu histórico, minhas senhas clonadas!
e gastar a lombra da minha maconha com isso?
não... sabe que prefiro fantasiar com nuvens quentes de fim de tarde transformando-se em mãos quentes sobre mim, de olhos fechados, para mim, que todos também estão bem de alguma forma qualquer e o sol aquece depois esfria e cada um sente ao seu jeito que as coisas só são e a gente está aprendendo uns com os outros e estamos todos empolgados com as novidades...
o policiamento, amiga, é constante, é concreto, invasivo, combustível, cortante. 
fazer do meu mundo um outro, não me faz esquecer que é isso, um outro.
mesmo os analfabetos, que não se sujam de palavras, não deixam de sentir o cheiro podre de seus ecos.
sei que estou sendo vigiado. minhas nuvens abrem portas perigosas.
sabemos, amiga, que a experiência vem junto com o perigo. e corremos.
não paramos.
estamos aprendendo.
não dichavo a fantasia.
não parto.
e essas armas todas estão justamente apontadas para ela! tenho perdido o sono, confesso.
a gente tem medo nem sei de que... treinei minha assinatura desde os treze, porque era um bobo sem tamanho, não sabia o que estava fazendo... não sabia que ensaiava meu ato final. um mutilamento aqui outro dali. acham que podem diminuir a infinitude, mas o pior é que acreditam, aí as frutas apodrecem todas na geladeira...
quero um dia apenas
não me sentir
vigiado.


cada vez me sinto mais vi(gi)ado.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

em busca não sei de quê agora ele quer controlar seus sonhos. gasta quinze minutos todo dia olhando sua própria mão. outro dia disse que transformou uma flor em um porco que aí fugiu de seu controle e saiu gritando. agora diz se conhecer de uma forma longinquamente inédita.
depois de falar a palavra h e t e r o n o r m a t i v i d a d e
ele parou e pesou-se, demorou-se. uns cinco minutos. o seminário acabou, sem sermão.
o olho aberto quase nada e da fresta que restava como a linha do horizonte baixava um sol vermelho. e era quase nada. (... mas aquela risada)
o dia ia durar, até que anoiteça duro.
há cobras eriçadas nos escuros de toda parte. basta haver sombra e eu quase nada dôo, só de medo, e acho que eles não entendem, mas vez ou outra  aparecem mordidos.