domingo, 28 de novembro de 2010

nunca tinha percebido o quanto sua poesia é ruim.
hoje percebi.
e quanto tempo eu gastava vasculhando beleza nelas,
deve ser porque não tinha beleza nenhuma mesmo
como o amor me deixava paciente!
cheguei a comprar uma calça vermelha.
seu escroto!
você é um sádico de merda.
você é uma pedra.
odeio suas mãos, odeio seu cabelo, odeio sua timidez forçada, sua insegurança falsa, odeio todas as suas qualidades, todos os seus defeitos, tudo que em você me lembra a mim. odeio tudo.
preciso ainda aumentar essa lista
quero ver se isso gruda na minha cara. vai ver facilita.
assim você não faz essa carinha de cachorro ridícula
assim eu não teimo em te levar pra casa e te dar comida.

sábado, 27 de novembro de 2010

passei a noite inteira procurando aquela calça vermelha
era nela que eu queria deitar minha cabeça gigante
passei a noite de bico, fazendo amarguras
ai, calça jeans vermelha que anda triunfante
se te acho e te finco, me amas? me juras?
não tem lar onde carla caminha
é só a cidade que se faz de seus passos
a paisagem que os outros, com um medo subconsciente, contemplam
onde carla caminha se faz
e se nega acabar na pele, se nega amadurecer com o tempo
são os outros que a julgam selvagem
é do externo que surge a margem
carla sozinha pé de chão
não se cala, carlinha
não perde o carinho
carla trator carla leão
não tem ar onde carla se aninha
e é só liberdade que se faz

terça-feira, 16 de novembro de 2010

não acredito mais em nada, sabia?
e tá foda viver assim
vale dizer que a culpa é sua?
quando no dia em que nos conhecemos olhou por mim e disse
que era melhor que tivéssemos trepado antes de ter apertado as mãos e trocado nomes
e aí eu falei que me cansava muito fácil das pessoas e nunca amaria ninguém, só pra te impressionar
foi quando tudo começou a dar erradamente certo
e no outro dia quando te vi agachado no banheiro com as calças no tornozelo procurando papel higiênico embaixo da pia e o cigarro já metade cinza em cima da descarga e seus resmungos barbados
me vi casado com você e tive uma tontura que quase me derrubou
antes fosse a primeira vez que pensava em desistir de tudo
um fato novo é que agora tudo era muito mais tudo.
porque tudo errado era extremamente excitante, inclusive o fato de pensar ser tudo muito certo
aí comecei a usar a palavra amor. erro fatal.
não dava pra nos enquadrar nesse conceito medieval
e querer isso foi o que nos matou
ia falar da primeira vez que te achei bonito, mas acho que confundo com a última
é o que me resta desse nosso coma erótico alcoólico
um quisto amor que nunca seria fecundo
e apodrece agora dentro de uma camisinha
no lixo do seu banheiro
queríamos desconstruir e mudar tudo que pudéssemos
começamos por nós mesmos
e aí, deu no que deu
gozei dias inteiros e matei milhões
ai, inexplicabilidades do corpo. ai, alma.

domingo, 14 de novembro de 2010

_ você me avisa quando doer, hein
_ claro
...
_ caralho, eduardo! ta sangrando! cê é maluco? porque não falou nada?

domingo, 7 de novembro de 2010

urbano, você é tão familiar e parte minha, mas tão labiríntico e inexistível.
porque de certa forma te separo de alguma outra coisa, mas você é inseparável.
então é só um nome diferente que te dou pro que na verdade é tudo.
hoje uma criança quis arrancar um cigarro da minha mão, ela disse que eu ia morrer.
eu disse que já ia morrer de qualquer jeito. porra, esqueci que era uma criança.
mas eu já tinha nojo de seus pais de qualquer jeito me senti menos culpado.
sentado tomando uma sopa ele estava fazendo um ponto bonito
o que havia esfaqueado um lavrador no Pará era tímido e gentil
o santo caridoso sorria e me dava vontade de cometer um atentado terrorista
mas aquilo ia fazer bem demais para o seu ego
era ali que se encontrava o desconhecido, o cotidiano, o meu medo, o meu futuro, a minha linha e a minha agulha
o lugar inteiro era azedo e cego
tudo ali que se dizia ser era não-ser, quem ali estava era de passagem
o santo sempre com o sorriso disse
vamos agora alimentar sua cabeça, sua alma...
e aí foi como se das paredes saíssem crianças em fogo querendo te arrancar cada uma algo diferente e vital, como tudo.
pra te salvar do mundano,
mas você é o e do mundo

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

escrever amor em neon na parede do seu quarto. porque quero que não durma. quero que se incomode com a luz e a persistência da minha própria insônia. quero que encha de mosquitos sua parede nesses dias de chuva. e quando, há dias sem dormir, já não souber mais distinguir o whisky do gelo e sair voando por impulso em direção àquilo. te esmago na palma das mãos. e esperneio no chão. pedindo mais, mais, mais....