segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

finalmente não significa nada
e eu posso te vestir da cor que eu quiser
sendo ou não natal
eu sou bom eu sou mal

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

exímios momentos poros big-bang. na vontade louca fogo. no espírito norturno. na contemplação. no assombro. sou ainda reinvenções do que fui. não guardo rancores da entropia pela sua culpa boba. isso não é uma música triste, juro pra você. e eu não teria de me disfarçar de ritmo só pra te fazer perceber. experimentamos fogos de artifício. a beleza continua, desfocada mesmo, em uma fotografia em uma gaveta aberta de um armário céu. nada, nem que a gente morra.
isso que você espera. não chega. só pousa. e minha casa é um aeroporto.
devassa.
 a janela tá aberta e vai molhar tudo. mas depois seca. e é assim que eu gosto.
outro dia pensei em sair correndo em você em direção a nós feito um urso em chamas abraçando e queimando o mundo nosso todo, mas não.
lógico que os idiotas iam ver uma baleia morta na areia e iam querer explodir. viciados de merda.
sou um desertor. e não há culpa.
experimentamos fogos e artifícios. a beleza contínua, desfalcada mesmo, em uma fotografia em uma gaveta aberta de um armário seu.
nada.
se eu acabar me matando sem querer... a culpa vai ser minha? não, espera... eu não to tentando encontrar culpados.
mas sabe que antes eu queria que você, ou quem quer que fosse, me sentisse. me amasse, se você quiser.
mas agora não é isso. a busca se tornou obsessiva em certo momento. depois eu nem sabia. agora eu sei e nada. agora eu quero você. mas se eu não quero que você me queira, não sei como funciona.
eu podia tirar uma fotografia e querer mostrar pra todo mundo quem é você. mas eu não poderia fazer isso com você.
não depois do que a antropologia foi em mim. aliás pelo bem do que ela me é, não posso inclusive me formar como antropólogo. enquadrar você assim me dá arrepios claustrofóbicos. é segurar uma faca sem cabo. e eu não costumo medir violências. e eu não posso. amor. eu não posso. eu já sinto as contrações. quem eu vou colocar nesse mundo. quem já se sente enclausurado em meu ventre tanto mais se sentirá caindo de cabeça na terra. por favor, bebê, se enforque com o cordão umbilical. por favor.
o dia já está escurecendo. negar que gosto tanto de você? ou posso. ou devo. porque diabos nasci em uma família cristã? acaba aqui. goteira interrogacional. acabe aqui. felicidade ocidental. meu coração pendurado em um varal em um mercado de rua em marrakesh. a gente ri junto e cheira a peixe. a gente também sabe da sede da parede.
ou é só esse ônibus. ou é o engarrafamento... cada um desce na sua parada.
mas nada para. nada.
(ônus e bônus. às vezes a gente é feliz juntos)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

era ali naquele momento em que, mesmo levando marteladas, estava em um lugar confortável de mim em que me permitia soltar sons aliviantes, que incomodassem toda a asa norte, que me faziam bem, porque não doía, não aliviava, libertava. como se do dia trinta e um de dezembro ao primeiro de janeiro houvesse um break, um descanço do tempo. o amor que eu sentia era por mim. o amor que você sentia, por si.  os movimentos eram emprestados e devolvidos. e cada um em seu bastidor escuro, de vez em quando lançava luzes e sons que por breves momentos mostravam o útero de nosso ser. aí a beleza. não a idéia mágica de idolatria e elevação transcendental do espírito, não a energia tântrica. o toque. a percepção. o se livrar de si. 
Você devia ir com mais calma, parece uma britadeira.

O outro atende o telefone e começa a falar alemão. do pouco que entendia de alemão, entendeu que ele disse estar sozinho. depois começou a trocar compulsivamente de cômodos pela casa e pisar forte no chão e gritar com um desespero tão forte que o desafinava de uma forma que não seria permitida em sua austeridade cotidiana.
enquanto o outro se debatia em espiral na sua performance alheia, ele sentou à janela e cantarolou um samba antigo que desconhecia o autor, virou pra trás. tinha desligado o telefone, acendia outro cigarro, abre um sorriso:
Quer café?
Seu café foi a bebida mais pesada que já tomei.

sabe que estar com você envolve vários riscos? você sabe que as coisas representam mais do que elas aparentam, se eu perguntar lógico que você vai saber. mas te falta olhar, te falta experiência. te falta perigo.

aposto que nem passa pela sua cabeça. mas eu me pergunto se naquele dia eu realmente caí ou me joguei.

você está bem. não precisa mais de mim. nem da alemanha. eu tenho viajado também. eu cruzei seu olhar dissimulado, com meu corpo inteiro. o momento que tivemos agora é só meu (e como é tão mais fácil assim).

não sei se te conto da delícia de ser solto...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

não sei exatamente sobre o que eu pensei. mas eu pensei bastante.

eu quero por tudo a perder.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Setembro, o mês do espantalho.
palhação pentelhudo se masturbando enquanto corre atrás de menininhas virgens nas noites de brasília, quem diria. esse é meu labirinto orgânico. meu estado de choque, meu pânico, minha paralisia.

Outubro, o mês do agasalho.
meu querido, quantas mil conchinhas na nossa beira! que esse rio nunca esbarre. preciso de você meu ursinho, preciso que me amarre. se não eu nunca volto, meu carinho... eu saio de casa e nunca mais acerto o caminho.

hoje,
meus pés não poderiam me impulsionar pra frente em um solo diferente de uma ilha deserta. já não há mais espaço. não há coisa certa. meu deus o que eu faço? você me dá azia. minha buceta anda fria, congelante, e dura como aço.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

enquanto facas e navalhas
são só imagens e palavras
depois da anestesia
sempre estarei, pra você,
num campo de desconcentração
e tanto terá medo que me odiará
lançará mísseis de desprezo
e sentirá dor ao rolar na cama
porque eu fora?
o sangue derramado foi meu, bem
porque chora?
se não por mim... tudo bem.
têm fracassado frequentemente
em me anular de mim
o sofrimento todo eu sei
sabe onde aperta quem calça o sapato
mas te toca a estética
couro lustrado
porque ignora?
o boi, rapaz, o boi
toca aqui sente só
a quentura o falo
o buraco é mais embaixo e eu
não abro mão da frida kahlo

terça-feira, 27 de setembro de 2011

te cuspir vivo do meu estômago vai ser melhor do que te digerir. antes que me cause uma infecção, antes que entre pra rede sanguinea.
porque me vê como um símbolo e não como ser humano. e isso dentro de mim me dá uma tontura. isso que é feito você também aprisionado aqui. e antes que apodreçamos que apedrejemos-nos no oco de nossa pedridão.
rudes rudimentares dois patetas jogando cada um o próprio jogo e arriscando justo no campo de interseção o único elo que nos era possível, trocando o todo pelo eco.
o objeto poeril entra por nossas largas narinas e vira alergia, o que era pra ser destrambelhada nova causa de vida.
mas numa esgarçada esperançosa última tentativa
enfio a mão dentro de sua calça e o que pego... que surpresa! ora se não é o seu ego!
te cuspo, te cuspo seu desgraçado. te cuspo no prato em que te comi.

e saio que a vida fora é mansa.
santa caos
meu corpo de pele macia
se afunda em si
transvia-me do tédio
dessa tijolística languidez
me esparsa do medianismo
da branca pequenez

vê que tem um cardume inteiro
se debatendo na rede do vento
e no cerrar dos olhos não escorrem lágrimas
mas penas
santa caos,
meus sentimentos parecem todos
paranoias...

não me abraça, não me abraça
a destruição veio antes da minha infância
antes da minha imaginação.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

a dor desértica
o choque elétrico
mãe, por favor um anti-séptico
me limpa do que eu não sou
que eu não sou, mãe, juro eu não sou
aquele homem, mãe, aquela estrutura
aquela mão, mãe, na minha cintura
aquela dor invisível
não pode ser não pode ser
aquele eu desprezível
ninguém viu, mãe, ninguém viu
quando num deslize, um deslizamento
quando a terra se abriu, mãe
quando meu corpo caiu
agora a dor desértica
agora a sede hipnótica
miragem, mãe, vertigem
ninguém, mãe, juro que não sou ninguém.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Iris: sabe o que que eu acho que eu vou ser?
  uma pessoa má
  acho que eu posso me divertir mais do que eu imagino sendo mau
 Abel: eu estou no caminho contrário disso.
  sem querer pagar de vilão da novela das oito, rs
23:39 tava falando com a Luana sobre isso na quinta inclusive.
  eu quero realmente ser uma pessoa melhor, Iris.
23:40 Iris: tentar ser bom é deprimente
  tentar ser mau é mau
  vale mais desconstruir bom x mau
 Abel: ah, com certeza. e foi exatamente isso o que eu fiz por muito tempo.
  resultado? me permiti ser muito mau.
23:41 ou seja, estou tentando reconstruir meu padrão moral, sem tentar cair nesse dualismo de novo.
 Iris: voce nao soube fazer isso
 Abel: isso o que?
 Iris: isso que falou que fez por muito tempo
  é obvio
  seu erro talvez tenha sido realmente apenas
23:42 incompetência na descontrução
  e no desvencilhamento
 Abel: será?
 Iris: do pragmatismo
 Abel: é possível que sim.
  mas na real, eu nunca pensei nas coisas (e nao penso) pela ótica do bem x mau.
23:43 o que eu sempre pensei, e o que talvez me tenha feito uma pessoa "menos boa" foi ter decidido surtar de vez comigo mesmo, com a minha identidade e tal.
  escolher a piração e refutar o lado capricorniano racional, óbvio e objetivo da vida.
  algo que jamais me convenceu.
  foi mais ou menos por aí.
23:46 Iris: é tipo o Linus falar: vou ser uma pessoa seca, sou seco
  só que ele ta mergulhado na piscina
  aí o Charlie fala: não, você não ta seco
  você ta dentro da piscina
23:47 aí ele chora: aaai é mesmo
  mas aí sai da piscina
  e se seca
  eeee to seco! to seco!
  só que aí o lençolzinho dele continua molhado
  por muito muito muito tempo
  porque o Linus nao consegue largar o lençolzinho
  pra por no varal
23:48 ai fica só molhado e além de tudo fedido

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

a lua tá numa parte rosa do céu... tem a textura da sua voz quando madruga.
infrator de sinais vermelhos,
estou saindo do seu território.
os sinais estão todos verdes.
seu cheiro ou sua arquitetura
tem uma permanência alheia ao trânsito.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

durmo com a consciência limpa

porque nunca tive ninguém

e amei como um filho da puta

graças a deus, nunca tive ninguém, nunca.

e deus, se me é digno pedir a sua ajuda
independente do meu desespero de amanhã
que nunca ninguém me tenha. nunca.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

duas aspas gigantes de concreto fincadas ao redor dessa cidade
a vida em fim já é uma metáfora, mas essa cidade é óbvia demais
mistério banal
e é proibido fazer barulho essa hora da noite
que cobra clandestina ao sabor da sombra vai me dar o bote enquanto canto essa música silenciosa
de não quereres? quem pelo amor de si me implode pra fora daqui?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

enfim... acho que é destino comum após o vislumbre.
se me colocarei virado do avesso fodido em cacos de desilusão é outra historia menos consecutiva...
pessoas cometem. erros e os erros não são necessariamente errados, não são também necessariamente flechas direcionadas... no caso, talvez seja erro conceitual meu o seu erro que talvez não seja.
não é indescutível ultraje sangue derramado, não vou te culpar dessa vez. só que se sangro demais morro.
e a dor tão grande quanto de ressuscitar faz quase não valer a pena.
está claro que tenho que clarear as coisas. saber onde, quando, quem é você e porque, não te matar e não morrer, transcender. esquecer também já não parece coerente nem digno comigo mesmo.
entro em uma busca múltipla e infinita então e não espero resultados esperados, não chegarei em mim, não chegarei em você, não chegarei no todo. andarei.
levantarei primeiro desse lençol suado, enlaces de amor e mistério, microinexistências, violências.
contemplarei a vista concreta da janela e atirarei a fumaça do meu cigarro contra o belo.
me certificarei de que tenho todos os botões fechados, retificado meu pensamento em círculos, terei o ímpeto de pegar a chave do carro, terei a audácia de me vestir e sair.
assim que tiver certeza de que não procuro exatamente nada, parto em busca.
você me abriu uma fenda, na qual me desdobrei. não sou nem serei nunca mais eu.
100 km/h é meu disfarce, em instantes. se anda ao meu lado te amo e te entendo, se fica pra trás te lembro, em outro caso te atropelo.
quem diria... quem diria...
se você estivesse aqui, acharia que está tudo bem com o mundo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

renata entra no quarto.
joga peixes ao leão que cria dentro do aquário.
sua mãe grita na sala que está cansada dessa palhaçada.
fernando entra no quarto ofegante.
renata arranca sua roupa, aperta seu pau com força e morde seu pescoço.
fernando e renata recomeçam o ritual pagão que os uniu.
fernando dessa vez parece estranhar e desconfiado e medroso e gentil
pergunta se está ruim se pode continuar
ah, fernando, isso não poderia me machucar, jamais.
fernando cai de lado
renata fica de pé sobre a cama e lambe o teto com as mãos
fernando desapareceu.
renata ri depois chora.
para renata para.
renata chora.
o leão fugiu
o aquario secou
ficaram os peixes
renata nada
Smiths começa a tocar
se sente triste depois feliz porque triste depois porque feliz porque triste, má
escreve com um pincel preto em sua pele
gatinho, te arranho mas não quero te desconfigurar
renata só come folhas há três semanas
espera chegar aos doze megabytes
sua mãe grita na sala que está cansada dessa palhaçada
renata coloca sua máscara de gesso, saltos vermelhos, despenteia o cabelo
sai do quarto em quatro piruetas
MÃE MÃE! um cachorro chamava pra dentro. um dia seu dono falou pra dentro pra fora! ele morreu. (risos)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

eu ouço seu corpo falar mais alto, cada vez mais alto
que o meu.
parece ótimo
pra você.
você me chama com vontade e eu vou
embora.

sábado, 11 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

enlaçado ali só queria te acessar
porque acreditava, acredito.
se fosse ainda com minhas recusas
não me movendo, não te tomando, não falando o que sentia como na hora
permaneceria eu e minhas fantasias do que era tocar, sem trocar
dois corpos se utilizando como brinquedos fantásticos em matéria
como mesmo de borracha, que não são
a pele rasga.
existia o que queria de você e o que esperava que quisesse e não de mim
mas sempre tem o que não se imagina, sempre existe o trânsito
quando em permissão
o que nossos corpos podem ser quando em permissão
não o que penso e peço do seu, não o que prensa e pesa no meu
simplesmente por nunca mover assim a cintura e o quadril,
passaria ainda anos, independente das mil peles que se esfregassem em mim, transando apenas comigo mesmo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

me parece até providencial a sua ausência, porque, convenhamos, não é nenhum segredo minha tendência a essa loucura enrustida cortante. como assim, né? avisar ao pássaro que na verdade ele não voa, o resto do mundo que é ao contrário! que veneno caótico alucinante pra um sonhador.
e você ao passo que puxa meus pés pro novo chão, sopra ao meu ouvido uma brisa atmosférica que me traz uma sensação nostálgica que me doma e me explode. (e me vicia)
para! pera, volta. não, vai! tem outras opções?
me explica de novo sobre a anarco-anarquia, me insere no vôo subversivo dos pássaros que não voam, em protesto e denúncia a falsa liberdade. quão grave é o conceito de gravidade. diz que me ama com um não-amor. ou não diz nada que eu já entendi com o sopro.
puta merda, como me sinto idiota batendo asas quando você está perto. como seu amor me habilita e me constrange. que bom que você está longe. que bom que ainda está.
e a vontade de corpo que é absurda, que mesmo que você morra...meu deus, que bom que não morreu. eu to ficando mesmo louco. outro dia pensei em sair correndo em você em direção a nós feito um urso em chamas abraçando e queimando o mundo nosso, mas só chorei. não sei se aguento. mas sei dos retornos fatais.
de qualquer modo sempre há assassinatos em cada ato. se aguento querer tanto o que quero e não querer. esquecer do que nasci pra ser e nunca como nunca saber. é a hora da virada. é a chance.
me beija como uma faca.

terça-feira, 31 de maio de 2011

mais uma vez entrar nesse quarto e deitar nessa cama e esperar o seu diagnóstico
que esses seus dois olhos gigantes apontam em tudo em mim um todo sintomático
assim no silêncio sobre o meu silêncio sobre o que penso sobre o que eu penso
depois você goza eu fumo um cigarro
e eu gosto mais dele do que de você
a casa é sua esse é o seu carro
eu sou hiato
um mosquito, talvez, em direção à luz
minha palavra meu ato não falo é o que faço é o que quis
pouco importa agora não acha? que saco vai embora
ou seu romance sua jornada épica em direção a mim
ou sua fantasia que insiste em grudar na minha pele
mas os espaços vazios são maiores tenta entender
que não é infância ou astrologia eu fiz agora você não vai me conhecer quantitativo assim o que espera de mim porque posse porque quer como se fosse não foi ontem à noite nem o acordar de manhã nem o alcool nem a maçã que não existe eu sei que você sabe de tudo que você sabe e parabéns mas puta merda eu só queria me render mas nem isso fazer amor infinito depois morrer que eu sempre achei que um depois dois agora nada não nada não que eu só to cansado que saco
não encosta eu nem to pensando em você

segunda-feira, 30 de maio de 2011

era meio dia na esplanada
ventava pouco e o sol rasgava
pendurado sob a sombra de um monumento
um morcego atento
ouvia cada ruído à procura de um similar lamento
quão perdido esse morcego estava
não há morcegos ao meio dia na esplanada

como riram os pombos ao avistarem algo ainda mais nojento
riram de graça, alívio, repulsa e raiva
o morcego era mesmo uma piada

segunda-feira, 9 de maio de 2011

homem doce, desde o dia que te mordi não consigo deixar de procurar teu gosto por aí.
dizem o contrário, mas penso que foi minha bulimia que me salvou
que esqueleto esquizofrênico eu sou
homem doce, te vomito todo dia antes de sair
homem doce, eu não posso te engolir.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

que dentro de você
sou travesti
e há tantos não-sei
em tantos não-ser
que...
pra que dizer
se
em alguns anos
seremos poeira
nos móveis em que trepamos
seremos perenes
na ausência
e felizes
infinitamente felizes
em milhões de formas
outras.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

numa tarde dessas qualquer, Roberto, muito entediado, resolveu sair de casa às 17 horas. foi pra rua à procura de qualquer pessoa que curtisse uma incoerência.
Incoerência era uma palavra que a mãe de Roberto gostava muito de usar quando se referia a ele e falava assim com um desgosto e um pesar. É, a mãe de Roberto não admitia incoerências naquela casa.
Aí quando Roberto voltou às 3 da manhã com a blusa rasgada e manchas roxas no pescoço e no abdômen e sua mãe indignada em cólera perguntou por onde ele andou, o que aconteceu, o que diabos era isso, ele abriu um olho só, encarou sua mãe placidamente e disse:
_Mãe, maria pegou aids do Espírito Santo... o pobre do Jesus teria aguentado um pouco mais se não tivesse sido crucificado por ser viado.

segunda-feira, 21 de março de 2011

enquanto ele estava parado ali na varanda nada ia mudar.
as pessoas na sala falavam sobre sexo e riam cada vez mais alto.
a sensação que dava naquele momento especialmente era de que nada ia mudar.
aquilo não saía da sua cabeça e ele ficava cada vez mais puto consigo, porque ele queria pensar aquilo. especialmente.
deitou no chão da varanda e ficou olhando o céu da noite pela grade. o céu nublado na noite fica alaranjado.
as pessoas na sala se calaram e passaram a prestar atenção nele.
aí começaram a rir mais alto.
era engraçado o quanto se gostavam. cada um de um jeito particular, mas intensamente em comum.
ele virou a cabeça pro pessoal na sala. como ele gostava de cada sorriso daquele especialmente.
sentiu compaixão, mas ficou tonto.
entrou e falou pra colocarem uma música mais animada.
acendeu um cigarro e ficou dançando junto com a fumaça.
uma vez ouviu dizer que quem fuma fica carregado de espíritos em volta. se divertiu imaginando-se dançando com eles. depois teve medo. mas não parou de dançar.
até que a música acabou. tudo parecia ser um acontecimento grandioso. aí pensou que não estava acontecendo nada de grandioso, aí depois pensou: porque não?
uma de suas amigas estava sentada no chão com os braços cruzados e naquele momento falava sobre os joguinhos que era forçada a participar e como tinha se adaptado àquilo porque era assim, ela falava assim.
ela crescia dentro daquilo e tinha a intenção de chegar em algum lugar superior, chegar daquilo. e ele via assim. um vulcão.
uma vez outra amiga falou que todas as mulheres são bruxas.
deu vontade de desenhar alguma coisa pegando fogo na parede da sala.
deu vontade de abraçar as pessoas e deu vontade de ir embora correndo, tendo alguma direção nesse caso e se todos corressem juntos seria ainda mais legal. deu vontade de saber o que significava as coisas, pelo menos as coisas que estavam ali dentro.
mas nunca seriam só as coisas que estavam ali dentro. mas é vontade, a gente pode ter vontade assim de tudo. tudo. deu vontade de parar de pensar.
aí ele se agachou e falou baixinho no ouvido dela: ( )
ela deu um beijo no rosto dele e falou que ele era lindo.
as coisas depois foram ficando todas meio turvas.
de alguma forma ele voltou pra casa e dormiu.
ele agora está a caminho do trabalho se perguntando se das coisas que vão se perdendo assim na gente algo fica. porque parece que nada de grandioso aconteceu, mas porque não?

sexta-feira, 18 de março de 2011

César encontrou um cachorrinho lindo perambulando numa rua, três quarteirões da sua casa.
levou pra ele, deu um banho, comprou um coleirinha toda transada de couro e corda.
aparentemente tudo bem, o cachorrinho lambia e abanava o rabinho quando César chegava.
mas às vezes César chegava em casa nervoso e se o cachorrinho fizesse barulho, ou mesmo por abanar o rabinho pra ele, César o estapeava e o xingava de doméstico.

sexta-feira, 4 de março de 2011

tem gente que vive mentiras piores. me deixa?
eu tava pensando numa palavra que merecesse ser repetida.
pensei em desconstrução.
não ia fazer sentido falar isso pra você, não assim.
pensando pouco, achei que era melhor:
atenção
atenção
atenção
atenção
atenção
atenção
lembrando que não tá tudo bem, mas tá tudo bom.

quarta-feira, 2 de março de 2011

parte da brincadeira era cuspir no seu café, inserir fios de cabelo no seu sanduíche. porque só queria que qualquer parte minha entrasse em você. fosse assim pouco e representativo, mas dava sensação que uma hora te tomaria por completo.
também te enviar emails e ficar atrás da baia meio disfarçado olhando seus olhos.
pra ver se você ria enquanto lia.
mas não, você nem riu.
ficou bastante sério. mas na sua resposta tinham centenas de 'kkk's. vai ver isso fazia parte da sua brincadeira.
ah. agora que comecei a escrever sobre isso me deu uma preguiça. que preguiça! nossa.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

estava ali jogada cuspida mordida machucada. e tinha pedido, tinha implorado por isso, tinha engatinhado, engolido, quis.
se coçou, se mordeu de querer.
e porque ali agora, depois de ter gozado e gritado de prazer, quis também chorar? porque?
e se encheu de quem sou eus?
era difícil aceitar a vastidão. tinha se cansado. talvez agora se colocasse no seu lugar.
que era uma cadeirinha rosa com o desenho de um gatinho. o banquinho do castigo. do qual sentia ódio e falta.
se essa rua, se essa rua fosse minha...
queria correr. queria ficar. correu.
mas sentiu raiva de si.
no bosque da solidão ouviu a voz da mãe.
eu to cansada dessa porra. e gritou.
eu to cansado dessa porra. falou baixinho.
eu quero mais. mais disso. eu quero mais que isso.
ainda estava ali jogada cuspida mordida machucada.
não ia mudar. ia durar.
não é isso que estava escrito em seu bloquinho.
não é isso que passava na TV.
não tava no fazer em si e mostrar. se envolvia maestria então não era.
buscavam uma palavra, não o que ela representava.
e isso a incomodava, como! porque simplesmente não existia.
e nunca quis brincar dessa brincadeira, não assim levando a serio.
que as coisas são fundas, gente. e se afundam ainda mais na gente.
e se isso envolve não ser, não estar, nao pertencer
tranquilo tranquilo,
chora baixinho de saudade.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

sombra de dúvida.
eu nem percebo. às vezes. droga de espírito escapista.
o estado é menor que os riscos
e eu posso morrer a qualquer momento
caibo no coração do cairo
agora que fogo é o que quero
e pedras nas janelas dos carros
bom se eu só quisesse deitar em lençóis limpos e ter sonhos mornos
me engaiolar nessa branquidão moca da tristeza das segundas-feiras
e eu posso morrer a qualquer momento
mas mais
mas nada mais nada do que isso
segunda, quarta, quinta-feira
pode-se achar que é uma disputa eterna entre azar e sorte
em brasília sol e aumento de nuvens pela manhã.
pancadas de chuva à tarde e à noite
o dia de hoje terá gosto de pêra
vou me masturbar a tarde inteira.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

sabe aquela coceirinha boa?
minha pele deve estar mais sensível, só isso
deve ser a secura ou tempo demais caminhando no sol
é isso você

sábado, 29 de janeiro de 2011

é fácil falar quando você se sente muito bem confortável dentro do seu corpo
quando deus fez o mundo do jeitinho que é pra ser né?
cala a boca um pouquinho agora, isso...
espera um pouquinho agora... isso...isso
boquinha fechada, que tesão você!
mande trazer da áfrica, pelo amor de deus, o maior elefante que encontrarem.
preciso me sentir pequeno! como havia lhe dito. lembra? uns dez anos já se foram?
agora tenho medo de morrer. não sinto mais minha pele e não acredito por medo.
mandei trocarem o piso da sala também. não queria sangrar em granito.
meti taco na casa toda.
quem foi que falou de sentir o chão nos pés?
a gente tinha chegado a alguma conclusão? algo mais pra anular e esquecer a solidão?
vou enrolar e fumar toda aquela caixa de cartas. depois por fogo nesse chão
depois vou
sei lá.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

_tinha até me esquecido de como marlboro é amargo e amadeirado, acho poético.
_e causa dor, sofrimento e morte
_ o meu: horror.
_é poesia pra todos os lados

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ar...
...
me infiltrar
em você selvagem esparso
num espaço coeso
você voa porque não tem peso
aos meus olhos virgens
é você ar. é você, ar.
a infinitude inevitável do ser
é assim o retrato que faço de você
explícito, querido, já te explico:
há sangue em tudo que ri
ainda em quem ri assim, como um bebê
e é sangue, querido
sangue que eu quero beber
por isso me infiltrar em você
pra ter em mim o que é tátil
do abstrato
pra misturar no meu infinito
pra chocar o que é lindo
pra parar ar
e não esquecer
que preciso de você pra voar
não pra viver.

(enxe meus pulmões e se expulsa de mim,
seu lindo.)
Pensava na vida. como a gente costuma chamar: vida.
as microtragédias burguesinhas que a gente inventa todo dia e sustenta. nossos bebês mimados, dezenas pendurados em todos os membros, cada um chorando por uma coisa diferente.
Luísa veio me falar ontem, depois de um gole profundo de café, uma tragada macia e um olhar virado meio de lado, meio acima, disse: você não quer a bahia, querido. você quer jorge amado.
Luísa tem dessas de dar tapas na cara com a língua. A gente só vai perceber mesmo quanto doeu, depois que deita na cama e apaga a luz.
o que aconteceria(á) mesmo com pessoas disformes inquietas que nem eu, que vieram desde pequenas desconstruindo as evidências e consequências e causas do que se chama de amor e do que se petrifica. que desde pequenas nunca cresceram?
Outro dia imaginei minha morte mais ou menos assim: estaria eu numa escavação, todo sério concentrado e suando, já meio musculoso de vida e a pele queimada, uma longa barba ruiva, falando a língua nativa com alguns indígenas remanescentes, que me olhariam com fascínio e me trariam um chá...
sem mais: um gigante artefato milenar cai sobre a minha cabeça e uma extensa poça de sangue se espalha e se infiltra na terra e uma grande epifania se evapora.
mal sabia eu que morreria de uma gripe, cheio de lenços sujos ao redor da cama, o dvd rodando pela décima quinta vez aquele filme espanhol e Luísa na cozinha lavando a sua parte da louça...
eu espero que a felicidade seja o produto de uma hermética específica equação. aí quando depois de mais uma vez esquecer, lembro que nada a ver: choro e não ligo pra você,
e me velo, mas não me enterro.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Caro,
não trago nenhuma surpresa. mas é bom que esteja dito e expresso aqui assim, penso eu:
vou embora.
todas as intriguinhas e richas camufladas na sociabilidade e educação diárias, não são a causa, são sintomas. de algo que já vem se construindo faz tempo. não comigo e com você, é algo histórico, caro, totalmente (im)pessoal. é impensável de infinito. sério, quando paro pra pensar me dá náuseas... enfim, esse gigante abstrato(mas concreto e bruto quando algum dia derrepente te esmurra) é o que, segundo minhas análises, me deixa assim: impotente.
completamente impotente. e eu olho pra trás, pra minha vida inteira e tudo que eu fiz pelo contrário disso que agora me acompanha em constância e sinceramente acho que se não estivesse aqui há tanto tempo ainda me restariam bem mais cabelos. olho pra sua cara e... vou te dizer, que outro dia quando precisei te mandar a merda, minha voz falhou. e de que ia adiantar não é mesmo? seria mesmo pra cuspir em alguém a raiva da minha própria degradação. mas todos tem seus altos e baixos não é mesmo? não posso nem mais me dar ao luxo de evitar clichês. porém, esse não é meu fim.
cansei dessa canjinha sabe? só engulo agora coisas que eu possa mastigar. abre o olho! seus dentes estão caindo, caro.
esse prédio inteiro é uma piada, tristíssima. fantasmas do passado toscos enfeitados com a última moda.
será que você entende meu sufocamento? e eu compactuo com isso! olha só! não posso mais. nunca mais.
grita lá em cima pra eles mandarem um ofício lá pra cima avisando que fudeu. que perderam.
repassa pra secretária e pro preto do cafézinho que
o funcionário do sétimo andar se mandou e disse que só volta com o cão no corpo mordendo principalmente deus e o mundo.

bom almoço,

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

saber como funciona o sistema é um passo importante. depois é sair atirando. ou fazer piada disso, fazer dele palco e brilhar na performance, lógico dançando porque se você não atira, ele atira. assim que eu faço.
não falo de pôr fogo no circo também e sair montado num elefante, nem tanto. não sou assim.
pode-se em vez de falar respeitável público, falar filhos da puta! depois oferecer uma chupetinha por dez reais.
as necessidades e quereres são todos limitados subordinados.  mas eu te quero. e a gente sabe disso tudo. e você me quer também. daí a gente faz nosso carnaval um no outro. e depois sai distribuindo beijos pelas ruas do brasil. dançando ao som das balas, até que toda a munição acabe. assim que a gente fez.
ai, essa tradição de negar o prazer pra varrer lixo pra baixo do tapete que é a nossa pele. isso é tenebroso!
eu só quero me divertir. falei isso a vida inteira pra papai, mas ele insistia em franzir a testa.
bobo que era, quando criança imitava sempre essa sua careta e sofria de fortes enxaquecas.
mamãe se preocupava comigo, mas o conflito nela sei que era tanto quanto maior que preferia mesmo só mastigar sem fazer muito barulho e não deixar nada no prato, comia até o último grão. eu fazia o mesmo.
só que sempre tive essa facilidade pra vomitar. ai, como tive doenças quando pequeno. não saía do hospital... papai e mamãe devem ter morrido de estresse e desgosto. muito triste mesmo. eu tenho saudade deles. uma tela em branco não é culpada por terem cagado nela uma pintura tão medíocre e demodê.
eu vejo assim.
no dia do enterro levei tintas de várias cores e pintei seus caixões com as mãos e os pés. o resto da família me levou carregado de lá. e deles não tenho saudade. porque tenho raiva mesmo e me permito odiar às vezes, senão não grito e aí eu choro e aí eu... me deixa também, né?
quando eu digo o sistema, saiba que falo de uma porção bem pequena. pobre de mim se achasse que entendo de alguma coisa além das roupas que eu visto. e delas entendo bem. é só por isso que tenho sabido me virar. e revirar.
as roupas, gosto de ficar sem. mas se sair andando por aí sem roupa o mundo inteiro vai franzir a testa e aí é enxaqueca demais pro meu corpinho. estando bem vestido, posso guardar minhas tintas no bolso. posso pintar a sola dos meus sapatos e sair por aí colorindo meus passos. a liberdade é situacional e assim eu a reinvento.assim dá pra se divertir, e é só isso que quero e quis a vida toda.
um dia alguém vê por aí essas pegadas e segue pra ver onde dá.
aí um dia nem o asfalto nem os velórios serão negros.
nem terá elefantes em circos.