segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pensava na vida. como a gente costuma chamar: vida.
as microtragédias burguesinhas que a gente inventa todo dia e sustenta. nossos bebês mimados, dezenas pendurados em todos os membros, cada um chorando por uma coisa diferente.
Luísa veio me falar ontem, depois de um gole profundo de café, uma tragada macia e um olhar virado meio de lado, meio acima, disse: você não quer a bahia, querido. você quer jorge amado.
Luísa tem dessas de dar tapas na cara com a língua. A gente só vai perceber mesmo quanto doeu, depois que deita na cama e apaga a luz.
o que aconteceria(á) mesmo com pessoas disformes inquietas que nem eu, que vieram desde pequenas desconstruindo as evidências e consequências e causas do que se chama de amor e do que se petrifica. que desde pequenas nunca cresceram?
Outro dia imaginei minha morte mais ou menos assim: estaria eu numa escavação, todo sério concentrado e suando, já meio musculoso de vida e a pele queimada, uma longa barba ruiva, falando a língua nativa com alguns indígenas remanescentes, que me olhariam com fascínio e me trariam um chá...
sem mais: um gigante artefato milenar cai sobre a minha cabeça e uma extensa poça de sangue se espalha e se infiltra na terra e uma grande epifania se evapora.
mal sabia eu que morreria de uma gripe, cheio de lenços sujos ao redor da cama, o dvd rodando pela décima quinta vez aquele filme espanhol e Luísa na cozinha lavando a sua parte da louça...
eu espero que a felicidade seja o produto de uma hermética específica equação. aí quando depois de mais uma vez esquecer, lembro que nada a ver: choro e não ligo pra você,
e me velo, mas não me enterro.

Um comentário:

beta(m)xreis disse...

gostei muito também.

de vários trechos, e do sentido geral.

muito.

você é foda, lucas.