sexta-feira, 18 de novembro de 2011

era ali naquele momento em que, mesmo levando marteladas, estava em um lugar confortável de mim em que me permitia soltar sons aliviantes, que incomodassem toda a asa norte, que me faziam bem, porque não doía, não aliviava, libertava. como se do dia trinta e um de dezembro ao primeiro de janeiro houvesse um break, um descanço do tempo. o amor que eu sentia era por mim. o amor que você sentia, por si.  os movimentos eram emprestados e devolvidos. e cada um em seu bastidor escuro, de vez em quando lançava luzes e sons que por breves momentos mostravam o útero de nosso ser. aí a beleza. não a idéia mágica de idolatria e elevação transcendental do espírito, não a energia tântrica. o toque. a percepção. o se livrar de si. 
Você devia ir com mais calma, parece uma britadeira.

O outro atende o telefone e começa a falar alemão. do pouco que entendia de alemão, entendeu que ele disse estar sozinho. depois começou a trocar compulsivamente de cômodos pela casa e pisar forte no chão e gritar com um desespero tão forte que o desafinava de uma forma que não seria permitida em sua austeridade cotidiana.
enquanto o outro se debatia em espiral na sua performance alheia, ele sentou à janela e cantarolou um samba antigo que desconhecia o autor, virou pra trás. tinha desligado o telefone, acendia outro cigarro, abre um sorriso:
Quer café?
Seu café foi a bebida mais pesada que já tomei.

sabe que estar com você envolve vários riscos? você sabe que as coisas representam mais do que elas aparentam, se eu perguntar lógico que você vai saber. mas te falta olhar, te falta experiência. te falta perigo.

aposto que nem passa pela sua cabeça. mas eu me pergunto se naquele dia eu realmente caí ou me joguei.

você está bem. não precisa mais de mim. nem da alemanha. eu tenho viajado também. eu cruzei seu olhar dissimulado, com meu corpo inteiro. o momento que tivemos agora é só meu (e como é tão mais fácil assim).

não sei se te conto da delícia de ser solto...

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