cansei da vigilância dessas microesferas toscas
vê se eu ia fantasiar uma coisa dessas! escutas no meu celular, no meu apartamento, meu histórico, minhas senhas clonadas!
e gastar a lombra da minha maconha com isso?
não... sabe que prefiro fantasiar com nuvens quentes de fim de tarde transformando-se em mãos quentes sobre mim, de olhos fechados, para mim, que todos também estão bem de alguma forma qualquer e o sol aquece depois esfria e cada um sente ao seu jeito que as coisas só são e a gente está aprendendo uns com os outros e estamos todos empolgados com as novidades...
o policiamento, amiga, é constante, é concreto, invasivo, combustível, cortante.
fazer do meu mundo um outro, não me faz esquecer que é isso, um outro.
mesmo os analfabetos, que não se sujam de palavras, não deixam de sentir o cheiro podre de seus ecos.
sei que estou sendo vigiado. minhas nuvens abrem portas perigosas.
sabemos, amiga, que a experiência vem junto com o perigo. e corremos.
não paramos.
estamos aprendendo.
não dichavo a fantasia.
não parto.
e essas armas todas estão justamente apontadas para ela! tenho perdido o sono, confesso.
a gente tem medo nem sei de que... treinei minha assinatura desde os treze, porque era um bobo sem tamanho, não sabia o que estava fazendo... não sabia que ensaiava meu ato final. um mutilamento aqui outro dali. acham que podem diminuir a infinitude, mas o pior é que acreditam, aí as frutas apodrecem todas na geladeira...
quero um dia apenas
não me sentir
vigiado.
cada vez me sinto mais vi(gi)ado.
quero um dia apenas
não me sentir
vigiado.
cada vez me sinto mais vi(gi)ado.
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