quarta-feira, 18 de julho de 2012

ontem fiz um sacrifício em meu quarto, uma oferenda pro deus proscrito da inanição, desconhecido e aparentemente vago e marulhoso, progenitor das falhas de comunicação, deus absoluto. matei um rinoceronte.
não me sinto melhor. como já não me sentia. como jamais me sentirei.
falei morra! e ele morreu.
suas intenções não interessam aqui, o que se faz implícito, o que se redobra inominável e incalculável, os sentimentos e mais as outras coisas outras que a sociedade não construiu e ainda nem sequer pensou em afogar, nem a paralisante sensação de ter os olhos arrombados pela imagem de um rinoceronte caído morto no chão de seu quarto. não.
para que siga o deus da incompreensão e do esquecimento, magnânimo invencível do progresso, as nuvens da política do bem-estar, do bom homem que me tornarei e te tornarás.
devemos apenas enterrar esse gigantesco inconveniente e cimentá-lo. sim.
assim ele se senta em sua celeste poltrona e se alivia numa gargalhada secular.
mais um infinito foi calado. outro corpo foi banido. mais alguém passará incontáveis eras a suplicar por uma gota do sangue que derramou, mas nunca terá e nunca morrerá da sede. mais um prédio. mais uma rua pavimentada. mais um esquecimento. mais dois. agora sim, tudo bem. o certo é certo, amém.
que pisem como pisam na paulista apressados, que vendam ingressos pro espetáculo, que vomitem nas madrugadas, multidões, sobre o solo impávido de meu sacrifício.
que nunca ninguém veja.
que nunca ninguém chore.
que nunca ninguém questione a superioridade das razões de deus e assim
que nunca me condenem. 

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