domingo, 8 de maio de 2016

eu não tenho nada pra falar pra eles. eu não tenho que dar nenhuma satisfação da minha experiência. eu não tenho que fornecer informações da minha expedição. eu não quero ganhar essa medalha. as épocas são outras eu sei, tanta coisa acontece lá dentro, mas porque essa tontura? porque essa sensação de que meu corpo se redobra três séculos a cada palavra que eu escrevo? me diz mãe que isso não é um suicídio social, diz que eu não vou ter que andar por aí agora como zumbi. diz mãe que eu não vou ter que comer a carne deles pra sobreviver só por causa desse ímpeto de renegar, dessa ânsia voraz de criar minha própria outra coisa. eu não vou me esconder nunca mais, mas se eu cansar de fugir? se um dia eu cansar de fugir mãe? parece um pesadelo, parece que eles vão me cobrar esse papel daqui há dez anos e eu vou cuspir no chão e levar um murro. e eu só queria mãe saber no que que dá misturar esse manjericão aqui, ou se eu deixar essas pedras aqui onde pega o sol nas tardes de maio ou se eu ficar uma tarde inteira gritando com os passarinhos no jardim. e eu acho que nem disso eles merecem saber. eles não querem nem me fuder. me diz que pelo menos você, quando eu tiver fugido pra outra galáxia, vai reservar um tempo pra conversar com uma estrela.

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