sábado, 11 de setembro de 2010

como eu gosto de aguar as plantas! elas precisam de água e eu dou água. é fácil. elas sorriem tão fácil, ficam moles de prazer.
provavelmente isso aqui era um deserto há centenas de anos. deus abençoe a água encanada!
é real agora.tenho água em minhas mãos e escorre o orgasmo de gerânio. penetrando na terra.
tão seca estava. não mais.
eu tava pensando quanto é forte que a gente possa gozar de um sonho, sem nenhum toque. talvez a gente possa também se alimentar, talvez não seja preciso nunca acordar.
será que a tecnologia um dia também nos oferece essa escolha?
eu acordei me sentindo tão bem hoje. estava vindo mesmo de um lugar muito bonito. aí vi arthur entrando no quarto. vi com tanto prazer. falei um oi macio, como quem chama, como quem abençoa. mas arthur já estava com as portas fechadas desde cedo. já tinha saído pra comprar o almoço, já tinha enfrentado filas, já tinha xingado alguém no trânsito. me disse bom dia, me ajuda a arrumar a sala? tá uma bagunça e minha mãe chega em uma hora!  ele foi delicado, mas em outra dimensão.
eu vinha das mãos de um semideus de olhos e cabelos brancos. tinha uns dez metros e eu ficava rolando na palma de sua mão. cada vez que ele chegava perto sua boca fina púrpura e soprava uma brisa fresca sobre mim eu gozava litros de luz, e rolava por cima , ele me lambia inteira... arthur calçava chinelos e usava uma bermuda de poliester e andava sem pensar no ato de andar. arthur tinha ligado a tv porque não gostava de silêncio na casa. arthur não estava alegre nem triste. como eu gosto de arthur. não sabe nada quase. como eu gosto de arthur!
bonito, crescido e ingênuo riscou uma linha no meu corpo. não me aguentou inteira. mas eu o entendo, lhe ofereço meus pedaços. afinal fizemos um pacto.
um dia terei filhos com arthur, mas não serei mãe deles por inteiro.
só da parte que arthur escolheu para si.
que assim seja, pra sempre aguarei plantas e morrerei de sede dos homens.

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