terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aquela menina gorda, de cara rosada, que tinha um cheiro horrível e que me perseguia na primeira série. Dizia que me amava e fazia desenhos, muitos desenhos, sempre árvores coloridas com dois bonecos-palito em baixo, eu e ela. Me dava um mal estar. Eu a ignorava completamente, acho que até chegava a odiar, com o ódio que uma criança de seis anos pode ter, porque ela fedia e me adorava. Pode ser ela ali. Parece tanto. vou passar direto, fingir que não vi. Não vou pegar esse panfleto. Não quero nem saber qual a causa pela qual ela está lutando, em que partido se filiou, ou que peça está apresentando, ou se está trabalhando em uma pizzaria e pretende sair de casa...seus interesses, suas ambições. Que ela chegou em algum lugar, cresceu, tá num caminho. Não quero saber nada. E tá tudo ali naquele papel que ela entrega com tanta paixão. E tantos nãos que recebe e nem sente, ignora tão bem. Tenho que sair logo daqui. não vou olhar, não vou olhar. Ela está tão bem. Ela está em uma direção. e eu nao. eu estou abandonado, abandonado. esse ser sem forma que não sabe pra onde ir, pra onde olhar e quer fugir... o que aconteceu? tenho que fugir. Vai que ela me reconhece. Vai que lembra de como eu era. Vai que espera de mim alguma coisa. ai nao. não posso com isso. não suporto mais expectativas. Ela vai lembrar e vai achar que ainda sou o menino mais popular da escolinha, na certa vai esperar que eu diga um "Oi" super simpático e faça piada com a cara de alguma professora como eu sempre fazia. não. não. tantos anos. Se ela vir que eu me tornei essa pessoa opaca e fraca. Se ela me vir na sombra dessa árvore cinza e seca. não é culpa minha. sozinho. não é culpa minha. foram eles, aqueles... eu não sei o que aconteceu.
Quero de novo que eu decida quem entra na brincadeira. Quero de novo que ela seja gorda e feia! Meu Deus. Meu Deus. quem sou eu?

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