São Paulo, 9 de janeiro de 1980.
Mãe,
Sem piadinha. Vou me abrir.
Eu tenho acordado de uns seis meses para cá sem ânimo, sem esperança, sem vontade de brilhar, de lutar, de mudar a Lucinha, O Brasil, o mundo, o universo!
Muitas noites eu não durmo, assombrado. Pensando assim: tô ficando velho, é isso. Talvez o pessoal odara tenha razão e eu já seja coisa antiga.
Passo então a pensar angustiado em como enfrentar minha velhice tomando fortificantes, complexo B, mudando meu guarda-roupa.
Bão.
De repente eu percebi que o mano Betinho e a Maria também estão de farol baixo.
Aí, anteontem, pego o jornal e vejo o resultado da pesquisa Gallup que dizia que 71% dos brasileiros estão pessimistas. Há uma epidemia de desânimo e impotência assolando o país nesse exato momento!
O atual sistema, para governar, nos fez pessimistas. E pessimista não dorme, não faz amor, não faz partidos, não incomoda, não reclama, não briga.
Que diabo de país é este?
Pessimistas de todo o Brasil, uni-vos! Somos a maioria! Às ruas!
Pessimistas de todo o Brasil, uni-vos! Somos a maioria! Às ruas!
Henfil
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