não era exatamente frio, mas tremia. não era o clima, era o dentro.
quantas vezes prometeu jamais voltar àquele lugar. e já fazia muito tempo mesmo.
mas não conseguia ignorar por completo que ali embaixo residia algo vivo.
a pressão la embaixo era absurda: respirava mal, andava curvado.
em parte queria não achar nada, não queria ver um cadáver, mas queria que estivesse morto.
mas sabia que não, não morreria. sentia o cheiro da fome.
ficando quente, quente, insuportável.
tapou os olhos, não quis ver sua cara. seu odioso! seu débil!
deixou um copo de água. que o mantinha vivo, mas fraco, e limpo.
de olhos fechados estendeu os braços pra frente, tateou o ar por instantes
sentiu que algo se movia em sua direção, a barriga tremeu, a perna falhou
vontade, vontade e medo, e ódio. seu doente! seu fraco!
correu de volta o mais rápido possível, subiu as escadas de dois em dois degraus.
quando chegou lá em cima, uma luz perfurante
esqueceu que estava nu no meio da amplidão
a luz queimava a pele.
não conseguia enxergar mais nada
só queria voltar, só queria chão, queria baixo
queria sujo, queria vontade, escuridão.
(david wojnarowicz)
3 comentários:
é justamente a sensação de ralo magnético que temos no cafil hahaha
queria filmar isso.
gosto dessa pra caralho.
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