quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

desceu as escadas rumo ao cárcere do desejo. a cada degrau tirava uma peça de roupa.
não era exatamente frio, mas tremia. não era o clima, era o dentro.
quantas vezes prometeu jamais voltar àquele lugar. e já fazia muito tempo mesmo.
mas não conseguia ignorar por completo que ali embaixo residia algo vivo.
a pressão la embaixo era absurda: respirava mal, andava curvado.
em parte queria não achar nada, não queria ver um cadáver, mas queria que estivesse morto.
mas sabia que não, não morreria. sentia o cheiro da fome.
ficando quente, quente, insuportável.
tapou os olhos, não quis ver sua cara. seu odioso! seu débil!
deixou um copo de água. que o mantinha vivo, mas fraco, e limpo.
de olhos fechados estendeu os braços pra frente, tateou o ar por instantes
sentiu que algo se movia em sua direção, a barriga tremeu, a perna falhou
vontade, vontade e medo, e ódio. seu doente! seu fraco!
correu de volta o mais rápido possível, subiu as escadas de dois em dois degraus.
quando chegou lá em cima, uma luz perfurante
esqueceu que estava nu no meio da amplidão
a luz queimava a pele.
não conseguia enxergar mais nada
só queria voltar, só queria chão, queria baixo
queria sujo, queria vontade, escuridão.

(david wojnarowicz)

3 comentários:

chora rita disse...

é justamente a sensação de ralo magnético que temos no cafil hahaha

Figueira Infinita disse...

queria filmar isso.

beta(m)xreis disse...

gosto dessa pra caralho.